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A vida é uma roda gigante

Estava o gremista no Monumental, observando o coletivo da equipe e orando para ser justo, quando ao olhar para o lado viu um fariseu com a camisa vermelha também orando e com lágrimas nos olhos. Disse o miserável ao gremista: “fui impotente para vencer o Flamengo em duas ocasiões, sequer um solitário gol marquei e, nesse momento, estou em vossas mãos e em vossos pés, ajudai-me em nome de Deus! Estou há trinta anos sem ganhar este título!” O gremista sorriu e falou que, antes de tudo, deveria o miserável pedir a remissão dos pecados e depois orar. Mas fervorosamente, sem simulacros, desejando a redenção e a conquista.
Ao que o fariseu respondeu: “não tenho coerência, não tenho honra e nem vergonha na cara! Sou mais um desprezível que trabalha por interesses escusos na imprensa esportiva deste Estado! Sabeis que o todo poderoso, o transcendente, não escuta minhas preces! O que fazer?”
Quando orardes, pausou o tricolor, acrescentais: Grêmio, meu senhor e soberano, perdoa minhas ofensas, pois não sou digno de nenhuma compaixão (nem mesmo do Paulo Paixão), de nenhuma solidariedade, mas fazei um gol, e segurai o resultado que serei salvo!
O fariseu não titubeou e usando a capa do Diário Gaúcho e o encarte de colunistas isentos da Zero Hora como capacho improvisado se ajoelhou no glorioso e sólido cimento. Repetindo palavra por palavra o que havia dito o gremista.
Mas eis que os céus de súbito nublaram, e o vento espantou os quero-queros e trouxe corvos e mau agouro. E o gremista indignado protestou: Aí de Vós, Fariseu, pois não há sinceridade em tuas palavras e a tempestade se encarregará de levar embora tua falsidade! Pedes-me a taça, mas tua ambição desmedida e teu cinismo não valem mais do que um cacho de bananas!
O Fariseu foi ao desespero. Implorou em nome de toda vizinhança. Pediu pelos cretinos de sempre da mídia regional e pelos novos amargos da mídia esportiva nacional. Citou pessoas sérias como os dirigentes do São Paulo, equilibradas como o presidente do Palmeiras e absolutamente honestas a exemplo do Ricardo Teixeira e dos integrantes do STJD para reforçar suas súplicas. “Grêmio, por favor, livrai-me de todo mal”!
Uma pequena multidão havia se formado ao redor (afinal, o que fazia ali aquele Fariseu, justo no sagrado templo do tricolor dos pampas?). Foi quando uma humilde e desavisada mulher gremista gritou: Bem-aventurado o Fariseu! Bem-aventurado, pois expulsou sua avareza e, agora, abraça a humildade e a camisa mais vencedora desta Província!
O gremista desprezou a impertinência e interviu novamente, desta feita com energia:
Ai de vós, fariseu! Porque gostais de ludibriar aos que te rodeiam e junto a teus amigos jornalistas de araque falsificas e manipulas com a detestável ajuda de todos os demônios!
Ai de vós! Porque anunciaste em 2008, por um dos teus dirigentes, que ofertarias a derrota para os bambis e te agradaria nos prejudicar!
Aí de vós! Porque entregaste o jogo para o Goiás em 2007 para rebaixar um desafeto.
Aí de vós! Porque o Paysandu te presenteou com uma derrota amiga para conseguires te livrar da segundona na nebulosa última rodada em 2002!
Aí de vós! Porque segues afrontando aos que são lúcidos e íntegros com tuas ignomínias e omites os duelos onde a retidão te faltou! Seria indulgente com tuas faltas não fosse esta tua cara de pau!
No entorno do Fariseu a cólera começou a tomar forma na multidão. Mulheres e crianças gritavam “Herege, Herege” e o ameaçavam com avalanches e pedras das montanhas da Galiléia!
Num derradeiro esforço, o Fariseu apelou ao gremista: “divino coirmão, esquecei e desculpai minhas faltas, não sou digno da tua caridade, mas me ajudai... afinal, eu sou Gaúcho e devemos unir o RS!!!”
Terminou a frase e o gremista, mal contendo a fúria pela mais nova heresia pronunciada, o expurgou severamente: o verdadeiro caráter da caridade é a humildade e a modéstia que tu, pífio e dito campeão de tudo, não possui. Não te absolvirei por teu recalque e mentiras nem nos próximos 100 anos, desgraçado! Refugia-te na tua empresa de comunicação e após no teu aterro e leva contigo a tua cruz, pois teu calvário é minha glória e toda lei e todos os profetas estão contidos nesses dois mandamentos: o que importa é o Grêmio e mais nada e mais nada importa, a não ser o Grêmio! Arreda-te daqui e leva junto a tua imundície.
O Fariseu, desolado, retirou-se apressadamente. Não sem antes ouvir, desde o gramado, o berro do filósofo Souza: “a vida é uma roda gigante, pois a escarrada de hoje é a mesma cusparada que me deste antes”.
Chora, vizinho, chora.

Jorge Bettiol
ducker.com.br

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