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Agosto


Rubem Fonseca, autor do romance “Agosto”, nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925. É graduado em Direito e, antes de iniciar a carreira literária, exerceu diversas atividades. No último dia de 1952, com a função de comissário, iniciou a sua carreira na Polícia Civil do Rio de Janeiro, lotado no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão. Permaneceu pouco tempo nas ruas. Foi, na maior parte do tempo, até ser exonerado em fevereiro 1958, um policial de gabinete. Após sua exoneração, Rubem trabalhou na Light – estatal de energia elétrica, na época – até se dedicar totalmente à literatura. Em 2003, recebeu o Prêmio Camões, o mais prestigiado prêmio literário para a língua portuguesa. Este ano, 2009, lançou mais um romance: O Seminarista.
Agosto é um romance, publicado em 1990, protagonizado pelo comissário de polícia Alberto Mattos. A cronologia dos eventos no enredo se dá em agosto de 1954, mês e ano do suicídio do então presidente Getúlio Vargas, misturando ficção com acontecimentos históricos. Mattos, como é frequentemente chamado no livro, aparenta ser o único policial honesto no distrito onde trabalha. Seu superior, o delegado Ramos, usa o nome do comissário com a intenção de intimidar os banqueiros quando cobra propina, para não fechar os pontos do “jogo do bixo”. O comissário é citado várias vezes na obra sofrendo de dor no estomago, causada por uma úlcera.
O romance é iniciado com um homicídio. O Ten. Gregório Fortunato, conhecido também como Anjo Negro, chefe da guarda pessoal do Pres. Vargas, foi o primeiro suspeito do crime ocorrido no oitavo andar do edifício Deauville, que vitimou Paulo Gomes Aguiar, presidente da Cemtex. A suspeita inicial, de Mattos, recaiu sobre o tenente pelo nome do mesmo ter sido encontrado em uma agenda de Gomes Aguiar, um anel e alguns pelos em um sabonete, que um perito sentenciou ser de um homem negro. Para reforçar a tese da autoria do crime, testemunhas haviam avistado na noite do crime um homem negro e forte.
Anjo Negro, na verdade, foi o mandante do atentado que, historicamente, ficou conhecido como o “Crime da Rua Tonelera”. Gregório, após incessantes ataques do político e jornalista Carlos Lacerda ao governo de Vargas, articulou com um de seus subordinados o atentado que culminou na morte do Major Vaz, oficial da Força Aérea Brasileira, e tinha por alvo o jornalista. Alcino, pistoleiro contratado por Climério – membro da guarda pessoal de Getúlio foi o autor dos disparos que além de ferir o jornalista, acabaram tirando a vida do oficial da FAB. O atentado deflagra uma crise política, e os militares abrem um inquérito paralelo ao da polícia, conseguindo prender o atirador, o motorista e Climério.
Gregório é capturado e fica detido em uma base da FAB. Mattos, sabendo da prisão de Anjo Negro, vai até a base tentar interrogar o tenente, mas é barrado pelos militares. Como a evidência, capaz de ligar o assassino à cena do crime, é um anel, o comissário pergunta ao Capitão Ranildo, que o acompanha na base, se Gregório está usando um anel. Ranildo diz que Gregório está usando um anel, e pede para um cabo trazer o objeto para o comissário verificar. Os tamanhos não batem.
Alice, mulher de Pedro Lomagno e uma das namoradas de Mattos, em uma conversa com o comissário diz que o marido tem um amigo negro, Chicão. Mattos sabe, por intermédio de Alice, que Pedro é amante de Luciana Aguiar, viúva de Paulo. O comissário entende o mistério e começa a montar o quebra-cabeça – trata-se, então, de um crime passional com aspirações financeiras. O suspeito do caso do edifício Deauville agora é Chicão, amigo de Pedro. Lomagno sente-se acuado e manda Chicão matar o comissário.
O clima ficou tenso na Câmara dos Deputados. O atentado da rua Tonelera serviu de combustível aos opositores do governo, que pediam veementemente a renúncia do presidente. Do plenário ouviam-se gritos de protesto como “assassino, ditador, criminoso”, contra Vargas. Coordenados por membros da UDN – União Democrática Nacional – partido oposicionista ao governo de Getúlio, deputados da oposição gritavam em coro: “Renúncia, Renúncia, Renúncia”. Numa reunião da FAB, com todos os brigadeiros-do-ar presentes na capital, ficou decidido unanimemente que somente a renúncia de Vargas seria capaz de restaurar a tranquilidade no país.
No Palácio do Catete, após uma longa reunião com os ministros, sobre a crise, Getúlio Vargas dirige-se ao seu quarto. Veste um pijama, apaga a luz e deita. Acorda cedo. Benjamim o despertou para avisar que havia sido intimado a depor no Galeão. Após Benjamim retirar-se, Vargas volta a deitar. Nesse instante, de olhos abertos, mas sem ver, imagina sua morte. Vargas, sentindo-se cercado pelos inimigos e sem saída, opta pelo suicídio. Um tiro no coração tirou sua vida. Em sua carta testamento o presidente diz que “sai da vida para entrar na História”.
Enquanto o comissário, de madrugada, caminhava nas imediações do palácio, procurando um botequim para tomar um copo de leite, ouvia choros, gritos e um grupo desafinado que cantava o Hino Nacional. Não encontrou nenhum boteco aberto. Com um “carteiraço”, o comissário entrou no palácio. Queria ver o presidente morto. Por volta das oito horas da manhã, Lutero Vargas, João Goulart e o Gal. Caiado de Castro fecharam o caixão. Mattos acompanhou o cortejo que seguiu pela praia do Flamengo em direção ao aeroporto Santos Dumont. O caixão foi colocado em um avião da “Cruzeiro do Sul” e rumou em direção ao mar. A morte de Getúlio acabou mergulhando o país no caos. Simpatizantes do presidente suicida entraram em confronto com os militares que revidavam lançando bombas de gás.
Após o cortejo, Mattos volta para seu apartamento. Fala com Salete ao telefone, outra namorada, que acaba indo ao apartamento do comissário. A dor causada pela úlcera é tão intensa que Mattos chega a suar. Chicão chega ao apartamento. O comissário devolve o anel, que o sujeito calmamente colocou de volta no dedo. A tiros, Chicão, tira a vida do comissário e de sua namorada.
Analisando a obra de Fonseca, em uma reflexão, percebe-se que os problemas de quase 60 anos atrás no Brasil, ainda continuam vivos. Superlotação da população carcerária, corrupção policial – envolvimento de policiais com banqueiros do jogo do bixo. Fica evidenciado no livro, também, o jogo de interesses e troca de favores entre governo e empresários, espécie de corrupção que vez por outra é noticiada pela imprensa, ainda hoje.

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