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Por onde anda o bom jornalismo?

Existem algumas coisas que realmente me tiram do sério, principalmente quando o assunto é a péssima qualidade da informação no noticiário da TV. Trata-se, ao meu ver, da ausência do bom jornalismo. Não é novidade a imprensa se valer de coisas fúteis para prender nossa atenção, sem que nos demos conta de que estamos no meio de uma guerra pela audiência. Uma guerra suja, silenciosa e covarde travada entre os meios de comunicação, com o intuito de adquirir mais investimentos publicitários; que tolhe nossas mentes e fere suscetibilidades sob a égide da liberdade de imprensa.

No tocante à liberdade de imprensa, gostaria de fazer uma observação particular, que julgo muito justa e oportuna: ela é recente e, infelizmente, pouco conhecida no Brasil. É lógico que em um “sistema democrático” – políticos e mídia adoram essas palavras mágicas – todos têm seus direitos assegurados, especialmente o da informação. Porém, em nossa história houve um período de estagnação, no qual a liberdade de pensar e divulgar idéias que confrontassem os que estavam no poder era crime, e punida severamente. Ouso afirmar que a liberdade de imprensa foi a maior vítima daqueles tempos turbulentos.

Mas passado o truculento período da Ditadura Militar, eis que a liberdade de imprensa retornou aos noticiários e, aos poucos, ganhou espaço. Ao meu ver uma coisa maravilhosa, não fosse um detalhe crucial: seria necessário aprender novamente o significado de liberdade antes de empregá-la na imprensa. Não ouso fazer censura, posando de moralista. Isso é coisa típica de quem carece de argumentos racionais para legitimar suas idéias e tenta suprir a ausência de argumentos pela imposição. É algo condenável, como condenável também é o alarde que a grande mídia faz em seus noticiários sobre temas polêmicos, explorando a miséria humana até a exaustão.

Um exemplo disso é o “Caso da menina Isabela”, brutalmente assassinada pelo pai e a madrasta. O fato foi amplamente, digo, exaustivamente divulgado, e nos mórbidos detalhes, muitas vezes empregando-se a linguagem emocional com o intuito de comover, afinal, isso dá mais audiência do que simplesmente informar. O tal “Caso”, transformou-se, para mim, em um espetáculo repleto de drama, e revolta, exaustivamente abordado por plantões até na porta da cadeia, expondo para toda uma perplexa e curiosa nação a face cruel de um pai e uma madrasta que mataram uma menina indefesa. Desde o início os suspeitos estavam sendo expostos à fúria da população, mesmo antes da conclusão dos laudos. A trama dessa triste novela chamada de “O caso Isabela” extrapolou a ficção e transformou-se na versão brasileira do seriado norte-americano “CSI”, com a imprensa a demonstrar como foi feita a perícia, de que forma chegaram às conclusões e etc. O fato é que por mais triste que seja a morte da menina Isabela talvez se saiba muito mais sobre ela e sua família, que das pessoas mais próximas a nós, como o desempenho dos filhos na escola, por exemplo.

Sinceramente, não sei o que pode ser mais assombroso, se a frieza dos criminosos ou a entrevista “exclusiva” com a mãe da vítima num domingo, dia das mães, para o programa “Fantástico”. É Fantasticamente horrendo esse espetáculo sensacionalista.

Para mim, liberdade não está dissociada da responsabilidade. A liberdade começa na observância dos deveres e não apenas dos direitos. Ignorar esse aspecto dentro da “liberdade de imprensa” que todo mundo fala, mas ninguém define, é fomentar práticas antiprofissionais que podem induzir ao erro e total deturpação dos valores vigentes na “sociedade democrática” – eis outro termo em voga, adorado pela mídia e pelos políticos.

Para entender como o abuso da liberdade de imprensa pode destruir as reputações nessa guerra insana entre meios de comunicação, admitamos a hipótese de inocência do pai e da madrasta da menina. Nesse caso, como se sentiriam essas pessoas que tiveram um ente querido arrebatado de seu convívio? Fossem acusados de seu assassinato, encarcerados e com a integridade física ameaçada por uma multidão que, incentivada pela insensatez das matérias sensacionalistas, exigia justiça, pressionando órgãos públicos para que rapidamente apresentassem um culpado? Como estaria a integridade moral dessas pessoas? Que diria a imprensa? Dispensariam o mesmo tempo gasto com as matérias sensacionalistas que os denegriram para inocentá-los, ou dariam a desculpa de que estavam exercendo o dever de informar?

Sinceramente, penso que liberdade e responsabilidade na imprensa devem ser palavras sinônimas. Perdoem-me se pareço pretensioso em minhas observações, mas ao meu ver, esses execráveis espetáculos só podem ser combatidos se junto à liberdade de imprensa pudermos exigir mais respeito aos seres humanos, mesmo os criminosos, e cobrando um posicionamento ético e responsável dos meios de comunicação. Essas são as características que só o bom jornalismo é capaz de realizar.

Agora, pra encerrar de vez o que penso de toda essa asneira que vejo na TV, pediria que se alguém visse o bom jornalismo perambulando por aí, pedisse-lhe para que retornasse urgentemente.

Luis Ângelo Rosso Vigil

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